Luiz Fernando Abreu Araújo

Essa é a história mais emocionante sobre a amizade entre duas crianças. É uma super história.

Tiago e Zito moram na Barra da Tijuca, na mesma rua, e são praticamente vizinhos. Mas em razão das suas condições sociais, nunca se viram.
Tiago mora no número 66 – uma mansão, com piscina, campo de futebol, sala de videogame… — Zito mora no número 99 — uma casa modesta, com chão de terra batida, rachadura nas paredes…

É com o despertador tocando, e sob o frescor do ar condicionado, que Tiago acorda todas as manhãs para ir à escola.
É com o cantar do galo, o barulho das panelas, na cozinha, e calor insuportável do quarto, que Zito acorda todas as manhãs para trabalhar de “flanelinha”, na praia.

Preocupados com a insegurança do bairro, os pais de Tiago não o deixam ir para lugar nenhum. Nem Gumercindo, o motorista, pode levá-lo ao shopping para se encontrar com seus colegas de turma. Por isso, Tiago não tem amigos, vive triste. Como jogar, sozinho, videogame, futebol, pingue pongue…?
Zito é o melhor “flanelinha” da praia. Tem gente que estaciona em frente ao Condomínio Barramares só por causa dele. É gentil, tem sempre um papelão para colocar no para-brisa e não deixar o carro pegar fogo… O dinheirinho que ganha, ajuda sempre em casa.

Tiago nem está animado para esse Natal. Mesmo depois de sua mãe dizer que receberiam amigos e parentes, e seu pai sugerir tantos presentes, abriu um sorriso.
Neste Natal, Zito quer ganhar um bom dinheirinho para comprar uma TV nova para sua mãe, uns brinquedinhos para seus irmãos, e realizar o seu grande sonho: comprar um par de chuteiras.

Chegou o Natal, e tudo deu errado para Zito. Acabaram com os “flanelinhas”, na praia, não faturou quase nada… Zito não consegue realizar o seu sonho. Ainda bem que o dono de uma mansão o contratou para regar as plantas, na véspera de Natal, e durante todo o verão.
Já Tiago, insiste que não quer nada. Nem quando o seu pai resolveu contratar um Papai Noel, para, à meia noite, entregar todos os presentes em sua casa, ele se animou.

Quis o destino, porém, que o papai Noel tivesse, justamente naquela noite, uma bruta diarreia. E na hora de pegar o cartão com o número da casa, na qual deveria entregar os presentes — brinquedos, TV a cores, par de chuteiras — era 66 ou 99.
Quis o destino, também, que Tiago, ao avistar um menino regando as plantas da sua casa, quisesse fazer o mesmo.

Uma obra do acaso ou um milagre de Natal?